quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O neto, a avó e a Variant 1976.

Aconteceu lá pelos idos de 1996, 1997. Eu estava em férias de inverno da faculdade e tinha ido passar uns dias com minha avó paterna lá em Poços de Caldas, onde ela morava. Ao fim dessa minha passagem por lá, ela viria para a casa de uma irmã adotada dela em Santo André para ficar cerca de 2 meses. Minha avó sempre gostou de dirigir, mas naquela época o médico já tinha proibido que ela pegasse estrada por causa do coração, que já estava meio frágil (e mesmo frágil, ela só viria a falecer uns 10 anos após), mas permitiu que dirigisse na cidade. Coube-me a tarefa de trazer o carro de Poços para Santo André.
Obviamente fiz uma pequena revisão no carro antes da tarefa, aproveitei a proximidade do limite de quilometragem para trocar o óleo do motor, calibrei corretamente os pneus, enfim, deixei o carro pronto para a viagem. No dia gastei um bom tempo equilibrando os pesos (bagagens mais pesadas no porta malas dianteiro, mais leves e volumosas no traseiro), almoçamos cedo e saímos.
Vim com minha avó monitorando o velocímetro lá do banco do passageiro, e qualquer “empolgação” ela já avisava da velocidade. E assim foi até as proximidades de Campinas, onde ela adormeceu – fato comum envolvendo minha família paterna e carros, quando estão como passageiros. Antes de construírem o maldito anel viário de Campinas, você saía da SP-340 em uma alça de acesso à Anhanguera e poucos metros depois já tinha a saída para a Bandeirantes – e foi esse o caminho que fiz com a valente Variant 1976 branca, toda original.
Assim que entrei na estrada, levei o carro ao limite de velocidade da estrada e percebí a aproximação de um ônibus Flecha Azul da Cometa, vazio (tinha o letreiro RESERVADO na frente) e fazendo o mesmo caminho que eu, daquele jeito que os motoristas da Cometa faziam antes de coalharem a Bandeirantes com radares em tudo quanto é canto. Não tive dúvidas: o ônibus passou, eu entrei atrás dele e o vim seguindo até São Paulo. Nem sei se o motorista do ônibus se tocou que eu o estava seguindo, mas a viagem foi muito engraçada: em diversos trechos o Cometa era o veículo mais rápido na estrada, ultrapassando Opalas, Monzas, Santanas, Gols, Paratis, Caravans pela faixa da esquerda... e seguindo o ônibus, na mesma velocidade, uma Variant 1976 branca, original, com um magrelo de óculos ao volante e uma senhora dormindo no banco do passageiro. De Campinas até chegarmos à Marginal do Tietê acho que no máximo 10 carros nos ultrapassaram – Kadetts, Tempras, um ou outro Gol 1.8... a viagem total de Poços até a entrada de SP foi feita em cerca de 2h50m.
Felizmente minha avó acordou já na Avenida do Estado, após eu pegar algum trânsito, e ela nem percebeu direito o quanto foi rápida a vinda de Campinas para São Paulo. Ah, antes que os maledicentes de plantão façam piadas, não, a Variant não desmontou assim que paramos na casa dessa minha tia em Santo André, na verdade o carro sobreviveu à dona e continua com uns parentes de uma outra tia minha em Poços de Caldas.